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A casa às costas

“Queria ter defendido aquela bola do Kelvin. Só vi uma vez na televisão. Sei porque é que não a defendi, sei o que devia ter feito”

Artur Moraes confessa que logo na primeira conversa com Jorge Jesus percebeu que ambos falavam a mesma língua. O guarda-redes brasileiro conta, nesta segunda parte, como foi aquela semana em que o Benfica foi do céu ao inferno e perdeu tudo, em 2013 e recorda duas palestras emotivas de Jesus. Fala, também, do que viu durante o ano que viveu na Turquia, do significado da sua passagem pelo Chapecoense, após o desastre que vitimou a equipa, e de como foi difícil voltar a jogar e a viver no Brasil, de onde acabou por sair para residir em Portugal

Alexandra Simões de Abreu

NUNO BOTELHO

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Quando entrou no Benfica percebeu logo a dimensão do clube?
Percebi logo quando vim assinar o contrato a Lisboa. Quando cheguei ao aeroporto, para apanhar o último voo de Lisboa para o Porto, para regressar a Braga, estava um monte de jornalistas à minha espera. Nunca tinha visto aquilo na minha vida, parecia uma pop star, meu Deus do céu. Fui pela primeira vez na minha vida capa de jornal [risos]. Cheguei feliz da vida em casa, o meu pai estava cá e estava preocupado porque tinha ainda uma final para jogar. Toda a gente sabia que eu tinha vindo para Lisboa para assinar e, se acontecesse alguma coisa comigo na final, se não jogasse bem, iam-me matar.

Como souberam que já tinha assinado pelo Benfica?
Não sei. Eu e o meu empresário não dissemos nada. Não faço ideia. Mas ninguém é bobo, o que eu tinha vindo fazer a Lisboa no domingo, antes da final? Associaram logo a vinda a Lisboa para assinar com o Benfica. Ainda a jogar pelo SC Braga, onde fosse que eu ia, toda a gente falava que eu tinha assinado pelo Benfica. Eu ia à Madeira “você é o nosso guarda-redes, vai jogar no Benfica?”. Até mesmo em Braga, os benfiquistas de lá, perguntavam. Foi um dos pontos que me fez ter a certeza que eu tinha que ficar aqui, tinha de dar sequência no país do que fiz em Braga. Depois, quando eu vim para a apresentação, aí eu percebi que estava num grande clube. Tem até um episódio engraçado.

Conte.
No dia da meia-final do SC Braga-Benfica, no hotel, lembro-me que estava sentado ao lado do Sílvio no autocarro e, no hotel onde estava o Benfica, havia um mundo de gente à porta e na hora que eu passei, perguntei: “Que é isso, meu!?”. O Silvio virou-se para mim: “É mano, isso é o Benfica”. Ali comecei a perceber a dimensão do clube. Quando cheguei ao clube comecei a perceber mais ainda. No meu primeiro jogo do campeonato pelo Benfica, em Barcelos, era um mar vermelho. Eu estava ao pé do Luisão, no autocarro e perguntei: “Luisão, o que é isso?”; “Bem-vindo ao Benfica. O Benfica é um mundo”.

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