Acabou por optar pelo AEK porquê?
Obviamente pela parte financeira. O Vitória de Guimarães foi uma hipótese que ficou logo excluída porque a diferença salarial era enorme, não se comparava com as equipas lá de fora. O Lech Poznan pagava-me quase o dobro do que o AEK, mas eu via o AEK como um potencial muito grande. O AEK nesse ano que me contratou e que me estava a aliciar, em dezembro estava na II Liga, mas era uma equipa com um poder muito grande que ia voltar certamente à I, iam subir nesse ano. Vi o clube com um potencial crescimento, muito maior do que o Lech Poznan, que, naquela altura, era o segundo, terceiro clube da Polónia. Também torci um bocado o nariz à Polónia, devido ao clima. Eu sabia que na Grécia a qualidade de vida era ótima.
Já tinha visitado algum dos países?
Não. O AEK mandou um diretor-desportivo conversar comigo, mostrar os projetos que tinham e senti logo desde o primeiro momento que era aquilo que queria. Ia ganhar menos, o salário ia ser inferior àquele que me davam na Polónia, mas senti aquele clique.
Mas seria sempre muito superior ao do Vitória de Guimarães, certo?
Sim, muito superior.
Quanto é que um clube como o V. Guimarães ou um SC Braga, paga em média de salário?
Não posso ser concreto, nem posso dizer um valor porque já não me recordo bem, mas calculo que andasse pelos 3000/4000€. Posso dizer que no Moreirense ganhava entre 2000/3000 €. Ou seja, temos um salário maior do que as outras pessoas na maioria das profissões, mas sabemos que não podemos fazer futuro só daquilo porque o futebol vai acabar em 10 anos. Quando chegas a determinada idade o corpo já não dá mais, as lesões são muito desgastantes a nível físico e psicológico. Cada vez mais temos jogadores com depressões porque o futebol está mais exigente. Há 20 anos era só ir treinar e ir para casa, hoje temos de ir mais cedo uma hora para fazer trabalhos de ginásio, de ativações em grupo, de alongamentos e de ginásio outra vez no fim. Temos horário para entrar e para sair do treino. E lá fora davam-nos cinco, seis vezes mais, acima dos 10.000 €.
Naturalmente a tentação de sair é grande.
Os clubes quando querem contratar um jogador sabem perfeitamente quanto é que ganhamos, por isso não precisam de dar muito mais dinheiro, apenas um bocadinho mais, porque à partida vais passar para um clube melhor. O interesse em ir para um clube melhor é sempre enorme. Se vais ganhar mais, isso então é ótimo. Os clubes jogam muito com isto. Por isso, a diferença entre ir para o estrangeiro ou ficar em Portugal, é de três, quatro vezes mais. E temos de multiplicar esses três ou quatro vezes mais pelo número de anos de contrato. No meu caso, na Grécia, foram mais sete anos, não foi só ir ganhar mais um bocadinho, foi o ir ganhar mais durante sete anos.
Vamos voltar à sua chegada à Grécia e a Atenas. Foi sozinho ou com a sua mulher?
Fui com a minha mulher.
Como foi o primeiro impacto?
Foi a primeira vez que senti que estava inserido num clube grande. O AEK era da dimensão da Grécia, o mesmo que os clubes grandes em Portugal. A diferença é que as pessoas lá são fanáticas pelo clube. O AEK de Atenas foi fundado pelos refugiados da Turquia. Os gregos quando foram expulsos de Constantinopla, agora Istambul, fugiram para a Grécia e criaram o AEK de Atenas, por isso eles olham para o clube como uma religião. O sentimento deles é de fanatismo. Naquela zona, Grécia, Turquia, eles são muito fanáticos por futebol, não vivem como nós o vivemos aqui. Em Portugal há um pouco de fanatismo, mas sabemos separar as coisas.