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A casa às costas

“O Abel Ferreira quando entrou no PAOK não criou conexão com ninguém, não queria ouvir os jogadores. Chegámos a andar à pancada com adeptos”

Fernando Varela esteve quatro anos na Roménia, sem a família, e diz que foi aí que a sua carreira deu o salto. O conselho de um presidente levou-o a perder 10 kg e a mudar hábitos, que tiveram reflexos em campo. Chorou muito quando soube que Cabo Verde não ia ao Mundial de 2014 por sua causa, mas descarta responsabilidade. Esta época assinou com o Casa Pia para poder acompanhar de perto o filho Gustavo, de 17 anos, contratado, entretanto, pelo Benfica.

Alexandra Simões de Abreu

Ana Baião

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Qual foi a sua primeira reação quando o empresário lhe falou na Roménia?
Não era o que eu queria, mas pensei que tinha de arriscar.

Com o que sonhava e ambicionava nessa altura?
Ir para Espanha. Gostava muito de experimentar o campeonato espanhol. Também sonhava com o campeonato italiano. Penso que era na altura o que qualquer jogador sonhava. Mas decidi arriscar, era um salário bastante bom.

Quando chegou a Vaslui o que viu e sentiu?
Comecei a chorar. Queria vir embora, liguei à minha mãe, à minha namorada, a dizer: "Não quero ficar aqui". A cidade não tinha nada, não tinha um centro comercial, só tinha supermercados. Era uma cidade, como eu e mais dois jogadores que foram comigo, o Jumisse e o Cauê, dizíamos: "Deus esqueceu-se de Vaslui. Fez o mundo e esqueceu-se de Vaslui" [risos].

A família foi consigo?
Não. A Andreia ia lá de vez em quando.

Com que opinião ficou dos romenos?
Sempre me trataram bem e foram muito carinhosos comigo, nunca tive nenhuma confusão com eles, por também ser um jogador calmo, que não fala muito, de muito trabalho, mais a querer mostrar o meu futebol, do que a querer-me impor. Mas eles são muito impulsivos.

Como assim?
Por exemplo, no campo, se às vezes fazes uma falta num treino ou num jogo eles reagem muito, querem logo lutar, começam a chamar nomes. Estranhei porque em Portugal não há muito disso. Pode haver entradas mais agressivas, mas soube sempre lidar com isso, pedia desculpa ou dizia que não tinha sido de propósito. Outra coisa que achei bem estranha é que depois dos jogos havia sempre pizza e cerveja, perdêssemos ou ganhássemos.

Como era o campeonato e o estilo de jogo romeno?
É mais agressivo em termos físicos, as exigências são mais físicas e também mais rápido em termos de execução, não tem muita técnica, nem muita tática.

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