Quando o Domingos Paciência lhe falou na possibilidade de irem para o Deportivo da Corunha, o que esperava encontrar e fazer?
Nós não tínhamos noção que íamos encontrar o contexto que encontrámos, um clube muito pouco saudável do ponto de vista financeiro, com muitas dificuldades.
E cheio de portugueses.
Sim. O Zé Castro, o Bruno Gama, o Pizzi, e levámos o Sílvio, mais dois brasileiros, o Kaká, central, e o Paulo Assunção. Só que aquele Deportivo, estava em sofrimento. Um clube fascinante, com uma massa adepta absurda, incrível o que aquela cidade gosta de futebol. Um centro de treinos porreiro. Era fascinante ouvir o presidente Lendoiro falar de futebol. Mas o clube já estava em queda do ponto de vista da sua organização. Não pagava salários. Os jogadores tinham reuniões permanentes antes dos treinos com o sindicato, com este e com aquele. Tivemos de lidar com esta realidade que influenciou de sobremaneira o nosso percurso. Fomos metidos na avalanche da falência do Deportivo.
Gostou do futebol espanhol?
Adorei. A Liga espanhola é extraordinária, não só pela qualidade geral das equipas, mas também da própria organização La Liga, que é superior na forma como se promove, o marketing que faz, como está organizada. Foi o meu primeiro contacto com uma estrutura diferente. Hoje a nossa Liga está também melhor, mas a maneira como se promove o futebol em Espanha é completamente distinta. Tenho feito televisão em Espanha, faço muitas colaborações com o canal da La Liga Internacional e lembro o que o comentador me disse na primeira vez: "Miguel, há uma coisa fundamental, vamos falar de temas sensíveis, mas não vamos falar de polémicas. Porque o nosso programa tem de valorizar aquilo que é o nosso produto, a La Liga". Tudo o que se falou foi na perspetiva do que era bom, o que era mau não interessava para nada. Felizmente tenho tido oportunidade de colaborar e com alguma frequência vou a Barcelona fazer programas.
Só estiveram dois meses no Deportivo. Vieram embora porquê?
Fomos nós que quisemos sair. Tivemos um almoço com o presidente que nos dizia termos de ficar para os ajudar. Mas, de facto, o contexto não fazia sentido porque não conseguíamos focar-nos no dia a dia, eram só problemas e problemas.